Mês passado, eu li Só os Animais Salvam,de Ceridwen Dovey (resenha aqui). O livro traz 10 contos/fábulas narrados por almas de animais, como cachorro, elefante, urso, entre outros, que morreram em situações de conflitos históricos, como a Primeira Guerra Mundial, Guerra Fria, entre outros.
Em outubro de 2015, Nell Porter Brown publicou, na Harvard Magazine, um texto que traz uma visão bem interessante do livro. A blogueira Débora Costa, do blog La Oliphant, fez a tradução do conteúdo para a Darkside. Eu achei o texto super legal e resolvi trazê-lo para vocês já que eu adorei o livro.
EMPATIA E
IMAGINAÇÃO: O
que os animais podem nos ensinar
Só os Animais Salvam, de Ceridwen Dovey, é uma desconcertante e lindamente trabalhada
coleção de histórias contadas pelas almas de animais mortos. Um gato é morto
por um atirador no Fronte Ocidental; um mexilhão azul se afoga em Pearl Harbor;
uma corajosa tartaruga é lançada ao espaço na era Soviética; e um papagaio que
se automutila é abandonado em Beirute no meio dos ataques aéreos de Israel em
2006. No entanto, Dovey ilumina e acrescenta camadas a esses contos com humor,
imaginação e uma construção literária engenhosa. A maioria dos animais são
conectados a escritores - Colette, Jack Kerouac e Gustave Flaubert, entre
outros - que deram destaque para animais em suas próprias ficções, e conseguem
emular suas vozes literárias. (o mexilhão Kerouaciano dizendo adeus para um amigo:
"Nós não entendemos, mas deixamos ele ir, doendo, como as chamas de uma
manhã vermelha quente brincando com as varas de pescar e dançamos na marola
azul sob o ancoradouro"). Assim, o que Dovey diz ter começado como
"um experimento" em recontar incidentes históricos de sofrimento em
massa através de seres vulneráveis sem vozes "para chocar leitores para
empatia radical" se tornou "essa mistura estranha de contos,
biografia literária e ensaio – com muitos detalhes realistas – e também uma espécie
de tributo amoroso para esses autores que me fascinam”.
Publicado ano passado na Austrália (Dovey vive em Sydney), Só os Animais Salvam evocou uma sinopse
prestativa de J. M. Coetzee, além de diversos prêmios; teve seu lançamento
previsto no Reino Unido em agosto e Farrar, Straus and Giroux vão lançar a
edição americana no dia 15 de setembro.
Alguns dos temas do livro – conflito, abuso de poder e as origens
amorfas da crueldade, inspiração e empatia - também vêm à tona no livro de
estreia bem diferente de Dovey, Blood Kin
(2007). Ambientado em um país sem nome durante um golpe militar, o livro curto
e ousado explora as complexidades da conspiração, com um pano de fundo de
perigo e erotismo, através dos relatos em primeira pessoa do barbeiro do
ex-presidente, o cozinheiro e o retratista, todos aprisionados em uma
propriedade rural remota.
Sem dúvida, Dovey se inspira em sua infância na África do Sul na época do apartheid. Havia, ela diz, "um senso de ser cúmplice [do sistema] em algum nível, porque o seu privilégio é concedido através da dor que outras pessoas estão vivendo. Mas você era muito jovem para ser totalmente responsável. Os pais dela, Teresa Dovey, uma pioneira estudiosa dos trabalhos de Coetzee, e Kenneth Dovey, um psicólogo educador, eram politicamente ativos. Razões pessoais e políticas levaram a família a transitar entre a África do Sul e a Austrália cinco vezes entre os anos de 1982 e 1987. Em 1995, o apartheid tinha acabado, e os Doveys tiraram um ano sabático em Sydney. Quando o tempo acabou, no entanto, Dovey e sua irmã - Lindiwe Dovey, agora uma estudiosa do cinema e da cultura africana, professora, e cineasta em Londres - estavam tão felizes com a escola que escolheram ficar, sozinhas. "Foi uma decisão muito corajosa para os meus pais tomarem", ela diz. "Eles vinham visitar quando podiam. Nós não fomos abandonadas de jeito nenhum."
Em Harvard, ela se focou em estudos visuais e ambientais e
antropologia, e, para o seu projeto final, fez o documentário Aftertaste, sobre as mudanças nas
relações trabalhistas e culturais nas "vinícolas" sul-africanas.
Depois da formatura, ela se mudou para a Cidade do Cabo, onde escreveu Blood Kin, que foi publicado
inicialmente pela Penguin South Africa. Ela retornou aos Estados Unidos para
fazer pós-graduação em antropologia social na New York University, ganhou um
mestrado, mas partiu sem um doutorado, então se casou com o atual marido, Blake
Munting, e voltou para Sydney, onde seu filho, Gethin, nasceu em 2012. (Eles
estão esperando mais um filho até o final do ano)
Escrever sempre foi um de seus "canais criativos". Ela já
finalizou oito livros (seis que, na mente dela, não merecem ser publicados),
mas, apesar das críticas positivas para Blood
Kin, continuou seu trabalho como pesquisadora ambiental e em projetos de
filmes etnográficos até que Só os Animais
Salvam, que ela se refere prontamente como "um livro estranho",
foi publicado. "Eu não esperava aquilo. Eu estava escrevendo personagens
que eram animais mortos", ela explica, "E não fazia ideia se eu tinha
ficado completamente louca". Um aumento de confiança, juntamente com uma
preferência crescente pela solidão e a autonomia que a arte literária
proporciona, a levou a se comprometer a escrever em tempo integral no ano
passado, incluindo não-ficção freelance para o blog do The New Yorker.
A maternidade também teve o seu papel: "Me tornou mais grata pelo
tempo que eu tenho para escrever", ela acrescenta - e por fim mais
criativa, especialmente enquanto terminava Só
os Animais Salvam, em 2013. A natureza da gravidez, amamentar e cuidar de
um recém-nascido, intensificou sua afinidade com "toda a família dos
mamíferos".
O título original do livro vem dos trabalhos de Boria Sax: "O que
significa ser humano? Talvez só os animais saibam". Assim como Coetzee,
Sax, um autor e acadêmico conhecido por seus textos sobre a relação entre
humanos e animais, influenciou Dovey, que também admite sentir-se “perplexa ao
ponto de inação nos termos das responsabilidades éticas que temos em relação
aos animais e as obrigações que devemos a eles como a espécie dominante na
Terra. Nós tratamos os animais das maneiras mais terríveis atualmente".
Ainda assim, Só os Animais Salvam
é apolítico. O livro gera empatia, vergonha e tristeza, mas também admiração
para com essas criaturas espirituosas. Eles enfrentam o que a vida e a morte
trazem com uma presença de espírito invejável, como seres viscerais. “Que
escolha ela tinha”, pergunta o papagaio em Beirute, “senão pendurar minha
gaiola na tenda acima e sair tão silenciosamente quanto pudesse, antes que eu
percebesse que estava sozinho?”.
“Eu tenho muita noção de que nós somos todos criaturas que sofrem
juntos e que a existência é difícil para todos nós”, Dovey reflete. “Tem
alguma coisa também sobre o elo que nós temos com os animais, o cuidado e a
conexão que não apreciamos, ou que não vemos a mágica tanto quanto deveríamos”.
As lições dos animais, ela destaca, agraciaram a literatura infantil ao redor
do mundo. “Eles são como oráculos, lá nas nossas primeiras tentativas de
construir empatia e imaginação”. E isso dá trabalho, ela diz: essas capacidades
“não vêm automaticamente, no sentido de que a crueldade é uma falha da
imaginação. Algo acontece na leitura através dessas lições dos animais que é
bastante ligado ao que significa ser um bom ser humano”.
Olá, tudo bem?
ResponderExcluirPreciso confessar que a capa desse livro foi a primeira coisa que chamou minha atenção. A DarkSide sempre arrasa né? Além disso, adorei a temática e considero muito importante.
No entanto, não me pergunte o motivo, eu ainda não senti a menor vontade de ler esse livro. Nem eu sei explicar o por quê.
Esse post e a maneira como fala sobre o livro mexeram um pouco mais com a minha curiosidade. No entanto, acho que não é o meu momento certo para esta leitura, porque ainda falta algo para que eu realmente queira ler.
Vou deixar a dica anotada para futuramente.
Beijos!
Eu li Só os animais salvam esse ano também e apesar de ter gostado do texto e dessa análise, o livro para mim não foi tão tocante. Achei uma escrita arrastada, lenta e sem emoção.
ResponderExcluirOi! Adicionei esse livro na minha wishlist por causa do título e sinopse. É uma premissa bem interessante, e tendo em vista as diferentes histórias, acredito que vou gostar. Achei a matéria bem legal, e conhecer a trajetória, mesmo que só uma parte, de vida da autora aproxima bastante do estilo que ela escreve, moldando a percepção do leitor e preparando para a leitura do livro.
ResponderExcluirNão sei se é o tipo de livro que me prende, mas a capa é linda e a sinopse desperta a curiosidade. Quem sabe, né? Beijos e sucesso!
ResponderExcluirCarolina Gama
Oie. em primeiro lugar, parabéns pelo post, está muito completinho. Em segundo lugar, adorei saber mais sobre esse livro, pois já havia ouvido falar da obra mas não tinha nem ideia do que tratava, e já adorei saber sobre a história da autora, parece extremamente interessante.
ResponderExcluirOie
ResponderExcluiraaaai olha essa capa que maravilhosa haha já quero muito o livro por falar de animais por ser dessa editora tão querida que sempre capricha e acerta
beijos
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